sábado, 17 de janeiro de 2009

Escoar


O ar tornou-se denso. O mundo silênciou sincronizadamente por um breve instante. Não se ouvia mais o pulsar dos relógios. Um atraso tão perfeito quanto o próprio acaso.
A Abstenção de sons fez com que Sofia, uma mulher de poucas rugas e olhar virtuoso de menina, consegui-se notar o estalar de algo que se partia e caia. O som se assemelhava com o dos próprios ossos se quebrando. Profundo e interno quanto seus desejos e pessoal como suas virtudes.
Olhou ao chão procurando algo despedaçado e encontrou a razão de tal aflição.
Próximo aos seus pés encontrara algumas letras espalhadas. Tentou entender o que aquilo significava. Sem encontrar resposta ela sentiu o peito apertar, uma dor forte a consulmiu. Sentou-se colocando sua mão firme no peito. Uma apneia se seguiu e então suas mãos já estavam encharcadas de sangue. Junto com o sofrimento a resposta veio, do seu peito havia se rasgado a palavra Amor.
Tentou descrer olhando ao céu. Mas só pode ver o azul apático. A tela de um pintor sem inspiração, as linhas vazias no caderno do poeta.
Sofia sangrava e não sabia como nem ao menos a quem pedir ajuda.
Voltou a olhar o chão e ali já se notava que próximo da primeira palavra também estavam dilaceradas as palavras; Perdão, Compaixão, Esperança, Vontade, Desejo e Liberdade.
Sentiu-se menos viva, menos humana e mais carne. Deitou se inundando de medo até que este também escorreu do seu coração rasgado. Lembrou as tantas coisas que havia vivido e as marcas que havia deixado, haveria ainda muito de sangrar.
Ela aquietou e esperou, fechou os olhos, mas conseguia sentir que cada palavra que escorria desfazia sua alma e por não possui-las deixava de compreende-las.
A encantadora mulher de olhar virtuoso foi se dissolvendo. Ao seu redor já podia-se ler as palavras; Adoração, Afeto, Força e Vontade.
Veio do último suspiro a última palavra, do interior do seu peito se emanou em letras o dizia ser a palavra Vida.
Não havia mais suspiro nem o tempo marcado. Apenas sentimentos e virtudes espalhadas.
O sangue secou e tudo se desfez. Não sobrará mais nada. Nem corpo, nem carne, nem letras e pesares.
A vida seguia sem notar que no solo rígido 5 letras fixadas e organizadas se reconstituiram em uma nova palavra. Marcado no aspero terreno era nítido ler, numa única palavra outras mais se destacavam, observavam e se traduziam em Sofia.

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