terça-feira, 17 de março de 2009

Amarelo.


Entrou em seu quarto e percebeu que a janela não estava aberta como nos dias anteriores. Sentia-se protegida por uma fina camada de vidro que detia o vento suave e frio no exterior. As cortinas geralmente dançantes hoje calavam nos cantos despercebidos do umbral.
A janela similar a uma tela resplandecia um céu cor do ouro. Jamais havia observado tal luminosidade nessa vastidão naturalmente azul. Por vezes já o vislumbrou alaranjar ou em tons escarlate, certa noite adquiriu a cor violácea. Notou que essa noite se mostrava especial, como jamais tinha visto antes o céu se mostrava brilhante e cintilava em amarelo dourado.
Pousou suave sua cabeça em seu travesseiro. Inevitávelmente seus pensamentos voavam livres lhe trazendo percepções. Pensou especialmente na prisão de suas ações. Nas inúmeras vezes que quis agir e não conseguiu como se algo a impedi-se de se mover.
As noites geralmente pareciam iguais. Mas o brilhar das nuvens lhe mostrava algo diferente, seu repouso estava diferente. A cor áurea a convidava a dormir tranquilamente deixando todos os problemas de lado como se a própria estivesse solucionado. Exigia o descanso dos hábitos e tb de seus amores. Sonolenta ela os foi deixando, permitindo que seus amores ganhassem uma segunda importancia para que se preocupa-se mais consigo mesma.
Sentiu um acréscimo de prazer por si mesma e uma vontade de planejar algo além dos seus hábitos cotidianos
A estábilidade não era mais interessante. A rotina que treinava sua disciplina já perderá a graça. Ela buscava algo mais.
A cor amarela talvez tenha sido um convite para uma vida mais cheia de delícias, cheiros, toques e prazeres. Buscou no fundo de sua alma coragem para seguir esse novo sentimento fulvo. Deparava-se sozinha em um mundo enorme e fácil de se perder em tamanho colorido. Não havia ninguém ao seu lado para segurar sua mão nem um outro para dizer o caminho, tampouco na frente dizendo alto "venha".
Seus planos passaram a lhe fazer compania. Das sementes que plantava crescia rapidamente árvores de frutas doces. Comia os frutos da incertezas e medos.
Ao se deitar, quando estava quase pegando no sono, naquele breve momento aonde se perde a conta do piscar de olhos ela pensou que no dia seguinte se vestiria totalmente de amarelo.