Antes de te conhecer eu já havia experimentado o amor sem limites, inegoísta de si. O amor completo, sem barreiras ou apegos. O amor sublime e impossível de ser alcançado sozinha.
Ao encontrá-lo degustei o começo de um novo amor. Dentre alguns que eu já conhecia o seu me pareceu totalmente incomum.
Me mostrou devagar quão impressionante você conseguia ser. E a forma, talvez um vício, de consquistar todos ao seu redor.
Você dizia que eu seria para sempre. Que habitaria seu coração até o fim dos dias. Me disse que eu te completava e que seria impossível uma vida sem estarmos juntos.
Me cativaste, me consquistaste. Me amava e me abraçava da forma que pudera. Confesso que muitas vezes estes não me bastavam, mas sabia que era o seu melhor e me enchia deles tornando suficiente.
Dentre tantos anoitecer juntos tornamo-nos singulares.
Do amor que me mostrava e da importância que me colocava, conseguia te amar intensamente. Pois amava tudo que compreende você; sua natureza, suas angústias, seus medos e amava ainda seu sorriso, seu abraço ou a falta dele. Amava o seu ser como um todo. Amava seus opostos e tudo de melhor que tinha e de pior que possuía.
Naturalmente, meu amor por você foi se transformando. Já não estava mais encantada pelo homem divino que conheci outrora. Mas estava envolvida pelo homem que é. Amava as roupas jogadas pelo chão, as discussões sem próposito, o som alto da tv quando precisava dormir. Amava sua inocência e inexperiência. Te ensinei a apagar as luzes ao sair, a tomar café e a saborear pimenta. Te vesti, te mostrei, te cuidei. Me dei e me doei.
Você me exigia a atenção privilegiada e me teve mais que qualquer um.
E, talvez, por tanto me querer e me ter, me tornava livre com você. Me buscava em ti. Te queria em mim.
Sendo assim, tão eu que sou, você recuou.
Quando meu oposto lhe falou você hesitou.
Notei que você me amava em partes. Que ficará apenas com metade. Cuidava de um lado do meu coração. E o outro fragilizado, descuidado, inconsolado era ignorado. Não lhe importava a totalidade e se saturava com o que lhe satisfazia.
Mantinha-se no patamar que conhecia. Na superfície fina de um lago congelado. Presumi seu medo de romper o gelo e na dúvida que tinha da profundidade do lago.
Meu coração se fez em pedaços. Era vidro estilhaçado. Ele se quebrou, o peito estufou e as lágrimas esvaziavam o que de inflamado estava.
Preenchi sua ausência resgatando os antigos hábitos deixados de lado para que coubesse mais de você.
Voltei a sentir o cheiro da grama e o cantar das ruas. Busquei o melhor de mim. Tive paciência. Lembrei o quanto gostava do vento tocando meu rosto e do calor do sol na pele nua. Pisei com pés descalços na areia da praia e consegui ouvir a melodia do mar.
Me resgatei. Me notei. Me abraçei. Me amei.
Lembrei que antes de você eu havia amado subliminente, profundamente, ardentemente.
Será que lhe falta tempo para perceber? Já não tenho mais tempo a perder.
Me resta lhe agradecer. De tanto te amar me perdi em você. E hoje, sem você, me tornei mais particular; mais essêncial; mais vaidosa e orgulhosa.
Amor, eu lhe digo; Não se perca e não tema. Ainda o amo e te quero bem. Deixei de amar o que não me bastava. E hoje amo a ilusão de que um dia você arderá em algo divino, suplicará o profundo e jamais verá a vida pela camada fina e temorosa que a grande maioria a vê!
Venha! Há algo de muito belo te aguardando, tens capacidade, basta permitir!
Respira fundo, prende o fôlego e jogue-se neste lago frio nadando fundo. E quando lhe faltar o ar, não se assuste, perceberá que é possível respirar em água, caso consiga, se sentirá diferente, não será mais humano; será mais que isso; nascerá um ser intangível capaz de devotar, mas principalmente capaz de amar.
.
.
.
.
Dedicado a R.Y.