sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Silêncio


Afligi-me sentindo que o mundo havia me arrancado as palavras e as sensações, que havia me tirado as cores. Havia um silêncio profundo como a manhã que surgiu coberta de névoa densa. Eu continuava a caminhar, mas com pés descompassados e as pegadas facilmente eram esquecidas por outros passos lentos que vinham atrás também sem direção.
Solidão é fazer força com os olhos espremendo-os tentando enxergar o óbvio das formas e sentimentos. E mesmo com súplico esforço não conseguir ver.
É tentar falar ou dialogar, até buscar desesperado em poemas e músicas a forma de se expressar e mesmo assim tudo ainda lhe fazer calar.
É quando o sol toca a pele gélida incapaz de tornar o sangue fervoroso.
Já me sinto incapaz de reconhecer as notas da melodia que ouvia todos os dias.
Silenciar quando nos convém é uma deliciosa opção. Há beleza no silêncio. Ele não contém limites e as fronteiras do próprio são as palavras ditas e ecoadas. Palavras podem se transformar em caos e o silêncio pode aprisionar.
Calar-me aos dizeres no acalanto do próprio peito.
Buscar a liberdade e a encontrar na verdade. Nas palavras sinceras que desacorrentam.
Precisei dizer que te odiei, mas que amei acima de todos.
Disse que queria te preservar e não ser irresponsável com seus sentimentos.
Senti que você fará falta até o fim dos meus dias.
Abri-me te amando e não temendo o imprevisível.
Direi para sempre, usarei palavras até me cansar e quando isso ocorrer usarei o silêncio. Mas o silêncio que pode ser entendido. Aquele que é dito. Aquele que você compreende.
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* Imagem;. quadro de Sergio Fingermann (Elogio ao silêncio)

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