quarta-feira, 15 de abril de 2009

Confesso.


Confesso que não esperava sua mão estendida como um convite de fuga no meio daquela multidão.
Sentia o toque de seus dedos me levar para perto do seu peito. Era o mais perto que eu conseguia estar naquele momento aglomerado.
Mas você sabia o que queria e fez suas mãos me puxarem para perto de ti até me levar ao silêncio do seu beijo. O toque dos seus lábios fez derrubar o véu que separava os limites da realidade e do espaço. Era generalizado os planos que eu sentia naquele instante. Fechei os olhos e não ousava em abri-los. Caso o fizesse eles enxergariam uma ilusão de cores e formas que já não pertencem mais a realidade. O que se fazia real eu sentia no toque de suas mãos que envolviam minha cintura. Sentia no hálito de suas palavras que deixavam o ar mais doce e no seu perfume que apagava o cheiro da praia. Mantive os olhos, assim, fechados até adormecer em seus braços. Na noite sua pele era quente e o ar gelava. Você não permitia que ele me fizesse frio.
Sentia você e a mim, sentiamos nós.
Mas sempre chega a hora da solidão. Sempre chega a hora de arrumar as malas. Ao abrir meus olhos e olhar para trás pude perceber que uma das partes do meu corpo ficou em ti.
Voltei a enxergar e a ver as multidões aglomeradas ao meu redor. Via os carros na minha frente indo para aonde não sei. E podia ver claramente o vazio naquela vastidão preenchida e iludida.
Me perguntava aonde você se escondia e por onde você estava? Me sentia irreal.
Confesso que não esperava ver no meio daquela confusão sua mão estendida novamente. Você havia me encontrado mais uma vez e dessa em formas de palavras.
Suas cartas, mensagens e declarações chegavam diariamente enchendo minhas gavetas de papel de seda. Nelas lia-se "Não nos esqueça".
E bastava o fechar dos meus olhos para que tudo fosse real novamente.
Os papéis de seda continuavam a cair sobre mim como pétalas de rosa aveludada. As palavras contidas neles ganhavam melodia pelas paredes do meu quarto.
O último dizia "me espere, vou te encontrar. Te Amo".


*Dedicado a Diogo, que consegue estar longe e perto.

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