Mal sabia por onde começar.
Apenas sabia que seus pensamentos ardiam à carne mais profunda.
Que medo da mesmice era esse? Medo de ter o mesmo dia que ontem e que ontem e que ontem, e sabia que se continuasse a pensar e a pensar e apenas a pensar seria o mesmo dia de amanhã e amanhã.
Que há de extraordinário? Aconteceram tantas coisas nesses meses e a mesmice continuava lá.
Até a rotina mudará, mas ainda acordava surpreendentemente no meio da noite e só voltava a dormir quando não pensava.
Acordou dessa vez. Passeou pela casa. E olhou com cuidado, um pacote de bolachas com apenas uma delas, a toalha molhada jogada no banheiro sem cuidado, uma cama desarrumada e voltou a pensar. Tais descuidos seriam de alguém realmente despreocupado ou muito preocupado com outro mundo se não esse.
Adorava tudo que fazia. Mas onde estava a grandiosidade? Nas pequenas coisas? Nas toalhas molhadas? Na mesmice que era de ontem e amanhã?
E podia mover o mundo, havia força em si. Mas era o mesmo mundo. Colocado e arrumado de outra forma. Não só o mundo era o mesmo, era, também, o ontem e sabia que o amanhã. Pois era ser e estar e ainda o que se é.
Tinha ânsia e quase vomitava, suas entranhas se contorciam ao pensar.
“Eu quero ser. Mas como ser mais que meu próprio ser? Ajude-me, por favor, a parar de pensar”.
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