Havia perdido o horário.
Estava atrasada para contemplar um dos espetáculos que mais gostava. Já passava das 19h e o sol não possuia mais o amarelo ouro, nem os prédios e capôs de carros ganhavam o dourado especial que só ocorria naquela época do ano.
O dia havia passado distraído. O tempo havia se perdido em pensamentos e emoções profundas. Houve a sensação de que o mundo havia congelado e que o tempo tinha parado.
Porém o Tic Tac do relógio moderno pendurado na parede da sala não se cansava. Era eterno seu ruído e não sossegava nem para os suspiros que vem da alma, tampouco para seus pensamentos enamorados e muito menos para o primeiro beijo apaixonado.
E era justamente esse beijo que havia lhe roubado o tempo.
Passava-se horas e dias e na sala, ainda pendurado, estava o relógio que não ousava em congelar. Acompanhado do seus ponteiros estava as memórias de um tempo vivido e de palavras de amor proferidas por um cavalheiro que estava ausente por muito tempo.
Ela alimentava seu coração com emoções que não sentia desde sua partida.
Percebia no fundo do seu ser que damas ou cavalheiros, idosos ou crianças, todos têm seu tempo e esse tempo deve ser respeitado.
Por vezes chegavam cartas até mesmo recados de onde seu amado estava e o que fazia em tantos cantos do mundo.
Com palavras doces ela saciava a saudade. Aprendeu a lidar com a ausência e com as ilusões. Ao fechar os olhos podia sentir o cheiro da pele. Se os abria conseguia ver a cor dos olhos.
Mas o relógio incansável trabalhava como a mente apaixonada da moça. O Tic Tac interminável que ecoava pela sala era como uma espera sem fim.
Pensou que o tempo chega a todos e que um dia seu tempo iria chegar. Então aquele relógio havia de parar.